Parlamentares da Bancada do PT manifestaram nesta terça-feira (4) preocupação com a volta às aulas, que já começa acontecer em vários municípios brasileiros. A deputada Professora Rosa Neide (PT-MT) voltou a defender uma discussão mais efetiva do tema no Congresso Nacional. “Temos quase 50 milhões de estudantes na escola básica brasileira. Se somarmos a isso seus pais – pai e mãe -, ou responsáveis, vamos ter diretamente quase 150 milhões de pessoas envolvidas. E praticamente em cada residência do Brasil temos um estudante, e os pais e mães estão, neste momento, com grandes preocupações”, citou.
Rosa Neide lamentou não ter visto, até o momento, os estados brasileiros organizando um kit Covid-19, entregando um kit de medicamentos para as pessoas que tinham sintomas. “E aí eu pergunto, para a criança, para o adolescente, para o jovem do Brasil, qual é o kit que o governo está preparando. O que receberem em casa os estudantes. Alguns receberam um pouco de alimento. Mas o alimento da alma, da vida, a literatura, o livro, o material instrucional, nada foi preparado, nada foi planejado. O governo se absteve de pensar e de liderar o processo de discutir a educação brasileira”, criticou.
A deputada enfatizou ainda que os profissionais da educação estão relegados. Ela citou que o seu estado, o Mato Grosso, tenta uma plataforma, coloca os professores, “loucamente”, para fazer o trabalho. “Eu digo loucamente, porque o professor não tem equipamento suficiente, não tem um computador suficiente para atender as especificidades das plataformas adquiridas. Os estudantes muito menos”, lamentou.
Rosa Neide conclui reforçando que o Parlamento tem que se debruçar sobre essa questão. “Já solicitei uma Comissão Externa com vários companheiros e companheiras, que ainda não foi autorizada. Temos que pensar que não podemos ter, no futuro, uma geração Covid, aqueles que não estudaram, porque os que podem mais podem ter acesso ao estudo”.
Sem o apoio necessário
A deputada Benedita da Silva (PT-RJ) referendou as afirmações e preocupações da deputada Rosa Neide. “Nós estamos vivendo um momento muito difícil, e a volta às aulas trará consequências graves, tanto para os alunos quanto para os professores”, alertou. Ela citou que hoje ouviu um testemunho de uma professora sobre todas as atividades que estavam fazendo para dar aula remota, profissionais que não podem parar e que estão fazendo de tudo para dar toda a assistência aos alunos. “Mas, ao mesmo tempo, são pessoas que têm em suas casas crianças também e que cuidam da sua casa, que dispensam suas trabalhadoras domésticas para não se contaminarem. Todas essas questões estão inseridas nesse processo”, acrescentou.
Benedita lamentou ainda que muitas crianças não estão tendo o apoio necessário. “O kit que se deveria dar é o de segurança total aos seus pais, a segurança total de que os recursos emergenciais chegassem lá na ponta de imediato, que chegasse também o alimento para essas crianças não está acontecendo”, lamentou.
A parlamentar manifestou ainda preocupação com a proposta de volta das atividades do Degase (Departamento Geral de Ações Socioeducativas). “É precipitado, é precoce. A situação é grave!”, afirmou a deputada, citando que o Rio de Janeiro já tem mais de 168 mil pessoas constatadas contaminadas. “Como voltar às aulas nessas condições? E principalmente dentro de um sistema penitenciário onde nós estamos vendo crescer a cada dia 134% a contaminação dentro dessas instituições?”, indagou.
Para a deputada Benedita, confundir o sistema do Degase com o sistema penitenciário e com a volta às aulas é falta de responsabilidade diante dessa crise que se acentua. “Nós estamos vendo as pessoas morrendo por falta de uma assistência adequada. Não tem jeito, esse governo não tem compromisso com a vida. Portanto, aqueles que o apoiam e estão fazendo essas liberações não estão organizados o suficiente para evitar a contaminação”, protestou.
A deputada destacou que também tem crianças, jovens e adolescentes em casa. “E me recuso a deixá-los irem para a escola nesse momento. Se o governo não tem responsabilidade, nós, os pais, temos que ter”, pediu Benedita, afirmando que esse seja um momento não só de protesto, mas de reflexão de que “não podemos mais deixar morrerem nossos brasileiros e brasileiras de Covid-19 por conta de irresponsabilidade do governo”.
Incompetência e irresponsabilidade
O deputado Zeca Dirceu (PT-PR), ao criticar a volta às aulas, lembrou que o Ministério da Saúde não cumpre o seu papel desde o início da pandemia, não coordena o enfrentamento ao coronavírus, não transfere os recursos e investimentos necessários para que estados e municípios cumpram o seu papel. “Há dinheiro em caixa no Ministério da Saúde. Não gastaram nem metade dos recursos disponíveis do enfrentamento do coronavírus. Isso não é só incompetência. Isso é irresponsabilidade, que começa também a ameaçar a educação às nossas crianças”, denunciou.
Para o deputado, essa volta às aulas “desenfreada, desregrada, ensandecida” não faz sentido. “Impossível quem é pai se manifestar aqui e não colocar isso, não colocar essa preocupação. Quem é pai sabe como age uma criança, sabe que uma criança com 5 anos, 6 anos, 8 anos, 9 anos, que seja 10 anos de idade não tem condições de se controlar, de se policiar, de ter esses cuidados de higiene, durante o ambiente escolar, numa sala de aula com várias outras crianças” observou.
Zeca Dirceu concluiu afirmando que está em jogo a saúde das crianças com esse retorno às aulas mal planejado, desenfreado, absurdo. “Está em jogo, está em risco a saúde de nossos professores e professoras. Está em jogo, está em risco a saúde dos demais profissionais que atuam nas escolas, nas creches, de um modo geral da educação do nosso País”.
Fonte: PT na C\ãmara
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