O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva está no Vaticano onde se reunirá com o papa Francisco, nesta quinta-feira (13), para abordar temas como fome, desigualdade social e intolerância no Brasil e no mundo. Em viagem ao Vaticano no final de janeiro, o presidente argentino Alberto Fernández anunciou que o papa Francisco receberia o ex-presidente brasileiro. Lula viajou para o Vaticano na terça-feira (11).
Em entrevista ao Brasil de Fato, o teólogo brasileiro Leonardo Boff pontua que um dos grandes temas do encontro será a desigualdade social e afirma que o papa Francisco “quer perguntar a Lula como é que ele conseguiu diminuir a desigualdade no Brasil”.
“É o encontro de dois grandes carismáticos, líderes reconhecidos mundialmente. Isso será bom para o papa, que colherá a experiência do Lula no processo de diminuição da desigualdade. Para o Lula, será importante encontrar-se com o papa, que tem as mesmas propostas de acusar e rejeitar esse sistema mundial que cria tantos pobres, agride a natureza e é anti-vida. O papa tem acusado essa desigualdade como consequência de uma forma de produzir e de explorar os trabalhadores e a própria natureza”, diz o teólogo.
Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram que a pobreza no país caiu de um patamar de 42 milhões de pessoas, em 2002, para 14 milhões em 2014, ano em que o Brasil deixou o Mapa da Fome das Nações Unidas. Lula foi presidente de 2003 a 2010. A fome no país teve uma redução de 82% entre 2003 e 2014, momento em que a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) anunciou que o país tinha menos de 5% da população em condição de insegurança alimentar.
Em 2014, 4,5% da população vivia abaixo da linha de extrema pobreza, segundo o IBGE. Em 2018, a taxa alcançou 6,5%, no governo de Michel Temer (MDB), chegando a 13,5 milhões de pessoas. Desde 2015, mais de 4,5 milhões de pessoas ingressaram na faixa de extrema pobreza.
Causas fundamentais
Leonardo Boff destaca que outro ponto fundamental na discussão de Lula com o papa será o resgate da democracia “especialmente no nosso país que é ameaçado pela intolerância e pela brutalidade das relações”. O teólogo ressalta que tanto o Lula quanto a papa são líderes carismáticos com capacidade de “mobilizar as pessoas e as consciências para as causas fundamentais”, como “a convivência pacífica sem ódios, sem intolerância, entre os povos da humanidade”.
“O papa é sensível à democracia em toda a América Latina. E é um tema central da luta do Lula. Creio que o papa entendeu que a prisão dele foi algo político, algo que não devia ser. Não sem razão, o papa escreveu uma carta ao Lula, isso significa que houve um reconhecimento daquilo que significou a prisão”, afirma o teólogo.
Em maio do ano passado, o papa Francisco enviou uma carta em que desejou ânimo ao ex-presidente Lula. No texto, ele afirma que “o bem vencerá o mal, a verdade vencerá a mentira e a Salvação vencerá a condenação”. Na ocasião, o líder religioso disse que acredita, assim como seus antecessores, que “a política pode se tornar uma forma eminente de caridade se for implementada no respeito fundamental pela vida, a liberdade e a dignidade das pessoas”.
Amazônia
O teólogo Leonardo Boff destaca a Amazônia como outro ponto central na conversa entre Lula e o papa. “O papa vai perguntar ao Lula em que medida a Amazônia é fundamental para a humanidade e como ele e os governos tem que proteger esse bioma.”
Nesta quarta-feira (12), o papa Francisco publicou a exortação pós-sinodal sobre a Amazônia. Com o título Querida Amazônia, a publicação é resultado da Assembleia Especial do Sínodo dos Bispos para a região Pan-amazônica, celebrada em Roma de 6 a 27 de outubro de 2019.
“Querida Amazônia”, assinada no último 2 de fevereiro e é resultado da Assembleia Especial do Sínodo dos Bispos para a região Pan-amazônica, celebrada em Roma de 6 a 27 de outubro de 2019.
“Sonho com uma Amazônia que lute pelos direitos dos mais pobres, dos povos nativos, de modo que a sua voz seja ouvida e sua dignidade promovida. Sonho com uma Amazônia que preserve a riqueza cultural que a caracteriza e na qual brilha de maneira tão variada a beleza humana. Sonho com uma Amazônia que guarde zelosamente a sedutora beleza natural que a adorna, a vida transbordante que enche os seus rios e as suas florestas. Sonho com comunidades cristãs capazes de se devotar e encarnar de tal modo na Amazônia, que deem à Igreja rostos novos com traços amazônicos”, diz o texto publicado pelo papa Francisco.
Em 2019, no primeiro ano do governo Jair Bolsonaro, a Amazônia queimou mais que nos sete anos anteriores. Segundo dados do Inpe, foram mais de 90 mil focos de queimadas registrados no ano, uma alta de quase 30% em relação ao ano anterior.
Em uma entrevista exclusiva ao jornal argentino Página 12 no final de janeiro,
Lula ressaltou o compromisso do papa com a questão ambiental e lembrou o papel da Igreja Católica na realização do Sínodo da Amazônia. “Eu fico feliz que a gente tenha um bispo latino-americano, argentino, pensando de forma tão progressista como o papa Francisco pensa”, afirmou.
O ex-presidente também afirmou ter profundo respeito pelo pontífice e ressaltou o compromisso de Francisco na defesa dos direitos humanos.
“Eu acho que ele tem se notabilizado pela coerência. Ele tem se notabilizado na tentativa de fazer com que a Igreja Católica tenha um compromisso maior com o povo pobre. Ele tem um compromisso de defender os direitos humanos muito forte e tem feito sinais pra humanidade muito positivos”, disse Lula.
Por Brasil de Fato