Na noite deste sábado o Festival dos 40 anos do PT promoveu uma mesa de diálogo entre os ex-presidentes do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, e o do Uruguai, Jose Pepe Mujica. Entre os temas abordados estiveram o atual modo de vida, as transformações do mundo do trabalho e a necessidade de se participar da vida política para a promoção de um mundo mais justo e menos desigual.
Mujica fez uma reflexão sobre a predominância do trabalho no dia a dia das pessoas. “A vida se vai e a pergunta é: basta gastar sua vida pagando contas, e contas, e contas? E você vai ter tempo para os afetos, para o amor, para seus filhos e amigos ou vai ser escravo do mercado? Essa é a pergunta que você tem que fazer”, provocou. “A vida não é só trabalhar, é preciso viver.”
O ex-presidente do Uruguai também criticou o consumismo. “Confunde-se felicidade com comprar, mas assim você não vai ser feliz, vai ser escravo das contas”, ponderou. “O mundo melhorará se o jovem se comprometer, se for capaz de gastar tempo da sua vida lutando pela justiça e pela igualdade em nossas vidas.”
Em sua intervenção, Lula criticou a flexibilização das leis trabalhistas e o uso de termos como o “empreendedorismo individual” para justificar a exploração do trabalhador. “Agora dizem para você que não vai ter mais emprego, que você vai trabalhar em casa, vai fazer o que aparecer e vai ser chamado de microempreendedor”, disse.
Para o ex-presidente, é necessária a ação estatal para assegurar a dignidade ao
trabalhador. “Eu quero saber se é apenas o mercado que vai reger nossas condições de vida ou se o Estado vai agir para proteger os brasileiros que precisam de proteção do Estado”, contestou. “As pessoas trabalham sem parar, na hora do almoço, quando vão ao banheiro, quando voltam pra casa, uma infinidade de horas sem saber que estão trabalhando, e não ganham nada com isso A vida melhorou? A vida não melhorou.”
Lula refletiu que as transformações e facilidades que aparentemente tornam mais tranquila a vida das pessoas implicam em piores condições de vida e trabalho para muitos, acarretando em insegurança para a classe trabalhadora de forma geral. “Hoje um companheiro com um diploma universitário não tem a segurança que eu tinha com diploma de torneiro mecânico”, avaliou. “Estão transformando nós, seres humanos, em algoritmos.”
A importância da política
O ex-presidente brasileiro também destacou a necessidade de as pessoas participarem da vida política do país, em especial a juventude. “Ou assumimos a responsabilidade de fazer e discutir política ou seremos levados de roldão como aconteceu nas últimas eleições. Não existe saída fora da política”, afirmou. “Tem que se pensar como organizamos o movimento sindical outra vez, como organizar as lutas.”
Ele deu um exemplo concreto das consequências da omissão em relação à política. “Se a sociedade não tiver força este ano para aprovar o Fundeb no Congresso Nacional e se ele acabar, será um prejuízo inestimável para a sociedade brasileira. Vão só xingar o Bolsonaro e o ministro da Educação ou vamos pra rua exigir que eles possam mudar?”, questionou.
Mujica também ressaltou a importância da política. “Os seres humanos são gregários, não podemos viver em solidão, vivemos em grupos sociais. Tinha razão Aristóteles quando dizia que o homem é um animal político”, explicou. “A política é uma necessidade humana e não uma profissão, um trabalho. Não é um trabalho para ganhar dinheiro. A política é uma paixão, um compromisso e o político tem que aprender a viver como vive a maioria do seu povo e não como vive a minoria privilegiada.”
Em sua fala, Lula ainda falou a respeito do papel dos partidos oposicionistas e provocou o atual presidente. “O PT tem que lamentar do Bolsonaro ter sido eleito presidente pelo povo brasileiro. mas, ao mesmo tempo, para quem quer fazer oposição no país, não tem nada melhor que ter o Bolsonaro na presidência para fazer oposição de verdade.”