O deputado Alexandre Frota (PSDB-SP) afirmou à CPMI das Fake News, nesta quarta-feira (30), que o Palácio do Planalto se tornou o “porto seguro de terroristas digitais” coordenando ações voltadas a “assassinar reputações” daqueles que se opõem ao pensamento do atual presidente da República e de seus apoiadores.
De acordo com o deputado, ex-integrante do partido de Jair Bolsonaro (PSL), “milicianos digitais” operam tanto no Palácio do Planalto, como em gabinetes de parlamentares, pagos com dinheiro público para operar, sob o comando do vereador Carlos Bolsonaro (PSC-RJ), perfis falsos cujo destinados a promover ataques coordenados como aqueles realizados recentemente contra a deputada federal Joice Hasselmann (PSL-SP), ex-líder do partido no Congresso.
Pelo menos três assessores presidenciais responsáveis pelos perfis falsos foram identificados por Frota durante a oitiva na CPMI. Tércio Tomaz, José Matheus Sales Gomes e Mateus Matos. De acordo com o líder do PT no Senado, Humberto Costa (PE), ao menos dois deles, José Matheus Sales Gomes e Tércio Tomaz, recebem cerca de R$ 13 mil mensais em salários.
“Carlos Bolsonaro coordena esse grupo, organizando reuniões, disparando comandos pelo Whatsapp. Esse grupo trabalha com injúria, ódio, calúnia e ideologia. Tudo isso atrapalha, e muito, nossa democracia. Recentemente, a deputada Joice declarou que existem cerca de 1,5 mil perfis falsos. Acredito que existam até mais”, disse Alexandre Frota, afirmando que esse tipo de comportamento dentro do Palácio do Planalto poderia ser visto como crime de responsabilidade por parte do presidente da República.
Alexandre Frota também relatou a existência de milícias digitais funcionando em gabinetes de deputados estaduais de São Paulo nos gabinetes dos deputados Douglas Garcia e Gil Diniz, além de Edson Salomão, presidente do Movimento Conservador.
Poderes da República sob influência das milícias digitais
Alexandre Frota confirmou ao líder do PT no Senado que as milícias digitais conhecidas por ele foram mobilizadas para atacarem, em diversas oportunidades, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, o presidente do Senado, Davi Alcolumbre, além de promover ataques ao Supremo Tribunal Federal (STF).
O deputado ainda confirmou que esse mesmo esquema foi utilizado para pressionar
parlamentares em votações numa tentativa de direcionamento do resultado da votação de projetos. “Os deputados, muitas vezes, se comportam pensando no que vai acontecer lá fora por pressão externa dessas milícias, dessas gangues virtuais”, acusou Frota.
“Se não desmontarmos isso, qualquer um pode ser vítima desse tipo de ação. O motor desse projeto político que está à frente do País não são ideias, não são propostas. É o ódio. É o ódio e a incapacidade de conviver com a diferença de opinião e de ideias que move o projeto desse governo”, disse Humberto Costa, apontando que a CPMI poderá dar uma contribuição fundamental para o fortalecimento da democracia no Brasil.
O vice-líder do PT no Senado, Rogério Carvalho (SE), afirmou ter sido vítima de ameaças articuladas pela milícia digital apontada por Alexandre Frota durante o processo de votação de decreto presidencial de flexibilização do porte de armas de fogo no plenário do Senado. A denúncia, de acordo com o senador, foi levada, à época, ao presidente do Senado, Davi Alcolumbre.
“Fui ameaçado por alguém que se dizia caminhoneiro, alguém que iria fechar a Esplanada dos Ministérios e quebrar todo mundo no cacete. Também fui vítima dessa milícia. Além da questão da democracia, do flerte permanente com o autoritarismo, estamos diante de uma permanente ação coercitiva dessa milícia que nos ameaça fisicamente através das redes sociais”, alertou.
Proteção ao motorista Dentre os documentos apresentados pelo deputado Alexandre Frota à CPMI estão o sigilo telefônico e um vídeo no qual ele afirma que Jair Bolsonaro o repreendeu por ter criticado, no plenário da Câmara dos Deputados, o ex-motorista de Flávio Bolsonaro,
Fabrício Queiroz.
Queiroz é ex-assessor parlamentar do gabinete do senador Flávio Bolsonaro (PSL-RJ), quando este era deputado estadual. O ex-assessor é investigado pelo Ministério Público Estadual do Rio de Janeiro após um relatório do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) apontar movimentação atípica em sua conta de R$ 1,2 milhão.
Durante evento realizado no Palácio do Planalto, em data não determinada por Frota, ele afirmou que Jair Bolsonaro, já na condição de presidente da República, repreendeu o deputado para que não tocasse mais no assunto Queiroz. “O presidente me disse, ‘cala essa matraca, p***’”, relatou Frota.
Frota relatou ainda que, no mesmo evento, o senador Flávio Bolsonaro o abordou e repetiu o tom da repreensão feita pelo pai em relação ao tema Queiroz.
“A gente sabe que ele [Queiroz] está no Morumbi [bairro de São Paulo]. Resta perguntar quem paga o hospital, o tratamento, a comida, o taxi usado pelo Queiroz”, questionou Frota.
“O deputado Alexandre Frota revela que a proteção ao Queiroz é comandada pelo próprio
Jair Bolsonaro. O próprio presidente liga para deputados para exigir proteção a esta figura”, pontuou o líder do PT na Câmara, Paulo Pimenta (RS).
“Essa é a primeira vez que um depoimento dá conta de que o presidente da República entrou em contato com um membro do Congresso Nacional para que ele não se manifestasse em relação a alguém que está sendo investigado. Essa revelação é gravíssima”, apontou o senador Randolfe Rodrigues (PSOL-AP).
Por PT no Senado