Antes de tudo, convém lembrar um pouco (muito pouco) da trajetória de Jair Bolsonaro antes de lhe cair no colo um cargo pelo qual jamais esteve à altura: a carreira do atual presidente da República, que durante 30 anos como deputado só teve dois projetos aprovados, é recheada de polêmicas envolvendo fake news. Mas o que mudou de lá para cá? Apenas o fato de que suas mentiras agora tomam novas proporções e as consequências são gravíssimas – quando não criminosas.
A pecha de propagador de fake news, no entanto, não chega a causar espanto a qualquer um que se disponha a conferir tudo o que diz ou publica o mandatário da nação. Este foi justamente o trabalho realizado pela agência de checagem Aos Fatos desde 1º de janeiro e o resultado é assustador: em pouco mais de dez meses de mandato, o presidente Jair Bolsonaro já deu 400 declarações falsas ou distorcidas, uma média de 1,4 por dia.
De um total de 702 falas analisadas desde janeiro, 57% tinham informações enganosas ou imprecisões e menos da metade (43%) eram verdadeiras – número deplorável e incompatível com a função que exerce. E os erros mais comuns ocorrem durante entrevistas, seguido das transmissões ao vivo e publicações nas redes sociais. Já os temas em que mais mentiu foram sobre economia e meio ambiente.
Sobre o segundo, ganhou o mundo a fala de Jair em julho, quando questionou os dados de desmatamento divulgados pelo Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) e , no mês seguinte, quando tentou responsabilizar ONGs pelas queimadas na Amazônia.
Não é só mentira. É racismo, preconceito, discurso de ódio
Para além das fake news, grandes responsáveis por elevá-lo ao cargo de presidente durante a campanha, Jair Bolsonaro também já entra para a história como um dos mais racistas, intolerantes e preconceituosos chefes de estado que o Brasil já teve.
Se levarmos em conta apenas o que disse como presidente o número de declarações criminosas contra negros, mulheres, nordestinos ou adversários políticos já é suficiente para enterrar qualquer esperança de que algo irá ser diferente até o final do seu mandato.
Como esquecer, por exemplo, de quando chamou todos os governadores do Nordeste de “paraíbas”, expressão preconceituosa em completo desuso e que hoje só faz parte do vocabulário de quem tem noção alguma sobre a história do país.
Ou, ainda, quando Bolsonaro usou o Twitter para ofender Brigitte Macron, primeira-dama francesa, após atrito político com o presidente do país europeu, Emmanuel Macron.
A lista não para por aí e, caso se estenda para o passado de Jair, seria tão interminável quanto a das fake news.
Entenda a checagem
A contabilidade das declarações é feita diariamente pela equipe do Aos Fatos — que mapeia canais oficiais, redes sociais e meios de comunicação — e publicada nesta base de dados. A organização deste agregador de declarações parte de uma ideia concebida originalmente pelo Fact Checker, tradicional coluna de checagem do jornal estadunidense Washington Post – a publicação criou um núcleo jornalístico dentro de sua redação incumbido exclusivamente de checar as declarações de Donald Trump, outro que se apoia diariamente em fake news para se esquivar das responsabilidades.
Fonte: Agência PT de Notícias com Aos Fatos