Três delegados que atuavam na linha de frente da Lava Jato e que hoje compõem a cúpula da Polícia Federal (PF) e do Ministério da Justiça são acusados de terem ordenado grampos ilegais contra prisioneiros da operação, em 2014.
Dois desses delegados foram promovidos e nomeados para funções em Brasília neste ano, na gestão do atual ministro da Justiça, Sérgio Moro.
Análise feita por uma sindicância da PF, e revelada nesta sexta-feira (12) pela revista Veja e pelo site do jornal Folha de S.Paulo, aponta que uma escuta instalada em cela de presos da Lava Jato, em 2014, gravou irregularmente 260 horas de conversas.
Os grampeados foram o doleiro Alberto Youssef (que descobriu e denunciou o aparelho de escuta), o ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa e a doleira Nelma Kodama.
Ainda em 2014, o delegado Maurício Moscardi Grillo abriu uma primeira sindicância, mas esta concluiu que o aparelho estava inoperante. O delegado chega a tal conclusão sem ouvir o agente Dalmey Werlang, que era responsável por instalar esse tipo de escuta, e sem encaminhar o equipamento à perícia.
Segundo o relatório de Grillo, a escuta havia sido instalada legalmente em 2008, para investigar o traficante Fernandinho Beira-Mar.
Mas um novo depoimento de Dalmey, colhido em 2015 pelo delegado Mario Renato Fanton, mudou o rumo do caso.
Dalmey disse que instalou a escuta a pedido de três delegados que comandavam a Lava Jato: Igor Romário de Paula, Rosalvo Ferreira Franco e Márcio Anselmo.
Todos trabalham hoje em Brasília. Anselmo foi alçado a coordenador geral do departamento de repressão àcorrupção e lavagem de dinheiro da PF em abril de 2018, quando o ministro da Justiça era Osmar Serraglio, no governo Temer.
Já os outros dois subiram com Bolsonaro no governo e Sérgio Moro na Justiça. Igor Romário virou diretor de Investigação e Combate ao Crime Organizado da PF em 16 de janeiro. Já Rosalvo Ferreira Franco foi trabalhar ainda mais perto de Moro, assumindo o cargo de secretário de Operações Integradas do Ministério da Justiça em 2 de janeiro.
Nova sindicância
Com as revelações de Dalmey, foi aberta uma nova sindicância em 2015. Dessa vez, o equipamento foi enviado para análise de peritos, que apontou a existência das 260 horas de gravação.
Com o resultado desta segunda investigação, o então diretor-geral da PF, Leandro Daiello, abriu processos disciplinares contra Dalmey, pela instalação do grampo, e contra Grillo, por má condução na primeira apuração, mas poupou os outros três, sob argumento de que não havia indícios suficientes contra eles.
Por Brasil de Fato