Do Brasil de Fato - Mais um capítulo das reportagens da Vaza Jato, publicadas com base nos vazamentos dos diálogos entre Sérgio Moro – então juiz federal – e membros da força-tarefa da Lava Jato veio a público nesta sexta-feira (5), revelando bastidores da operação.
Desta vez, a parceria do The Intercept Brasil foi com a revista Veja. Os cinco repórteres que assinam a reportagem intitulada "Novos diálogos revelam que Moro orientava ilegalmente ações da Lava Jato" afirmam ter analisado 649.551 das quase 1 milhão de mensagens de Telegram trocadas entre membros da força-tarefa que foram vazadas e atestam: "palavra por palavra, as comunicações examinadas pela equipe são verdadeiras".
A Veja publicou uma série de novos diálogos entre o ex-juiz Sergio Moro e membros da Lava Jato do Ministério Público Federal (MPF) de Curitiba, entre eles o procurador Deltan Dallagnol, chefe da força-tarefa. O conteúdo das mensagens demonstra que o "atual ministro pediu à acusação que incluísse provas nos processos que chegariam depois às suas mãos, mandou acelerar ou retardar operações e fez pressão para que determinadas delações não andassem".
"Moro deixou de lado a imparcialidade e atuou ao lado da acusação"
Em tom analítico, a reportagem considera que havia intimidade excessiva entre a magistratura e a acusação. Prova disso foi o posicionamento de Moro recomendando a rejeição de um possível acordo de delação premiada com o ex-deputado Eduardo Cunha (MDB-RJ).
Quando os procuradores da Lava-Jato aceitaram uma reunião com os advogados de Cunha para conhecer os anexos da delação, Moro apressou-se em interpelar Dallagnol. O procurador explicou tratar-se apenas de uma reunião inicial e garantiu que manteria o magistrado informado.
“Agradeço se me manter (sic) informado. Sou contra, como sabe”, declarou Moro, mesmo sem saber do conteúdo da delação e apesar de ser ele, enquanto juiz, o responsável por decidir posteriormente se aceitaria ou não a oferta de informações em troca de redução de pena. A delação de Cunha nunca se concretizou.
Anteriormente, em grupo interno do MPF criado para discutir a possível delação de Cunha, o procurador Ronaldo Queiroz havia afirmado esperar que "Cunha entregue no Rio de Janeiro, pelo menos, um terço do Ministério Público estadual, 95% dos juízes do Tribunal da Justiça, 99% do Tribunal de Contas e 100% da Assembleia Legislativa".
Outro dos casos de relação promíscua entre o MPF e o juiz que se transformaria em herói da Lava Jato, foi quando Dallagnol antecipou a Moro, via mensagem privada de Telegram, a manifestação do Ministério Público no caso da prisão preventiva de José Carlos Bumlai. Além da "peça quase pronta" o procurador ainda encaminhou ao "chefe" um compilado com "algumas decisões boas para mencionar quando precisar prender alguém".
“À luz do direito, é tão constrangedor quanto se Cristiano Zanin Martins [advogado de defesa] fosse flagrado passando a Moro argumentos para embasar um habeas-corpus a favor de Lula”, comparou a reportagem de Veja/The Intercept.