Sempre reverenciado por Lula como “aquele que fez o Brasil ser reconhecido e respeitado no mundo todo”, o ex-ministro das Relações Exteriores Celso Amorim é espécie de ícone da política externa brasileira: é inegável que a sua atuação como chanceler durante os governos petistas rompeu com décadas de subserviência e proporcionou ao país protagonismo inédito em sua história.
Não por acaso, Amorim tem sido bastante requisitado para avaliar a postura entreguista do governo de Jair Bolsonaro e sua submissão explícita aos interesses do neoliberalismo internacional. Em entrevista à BBC Brasil, publicada na noite de sexta (28), o ex-ministro diz ter estranhado o acordo entre o Mercosul e a União Europeia, “firmado às pressas porque a UE sabe que estamos no pior momento possível”.
A preocupação de Amorim é que a atual fragilidade do grupo de países sul-americanos tenha permitido concessões excessivas aos europeus. “O momento é o pior possível em termos da capacidade negociadora do Mercosul, porque os dois principais negociadores, Brasil e Argentina, estão fragilizados política e economicamente”, diz Amorim, que foi chanceler durante dos dois mandatos do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
O ex-chanceler disse ainda que o alinhamento do Brasil aos Estados Unidos do presidente Donald Trump também deve ter contribuído para que os europeus se apressassem a firmar um acordo. “Com toda a adesão do Brasil (aos EUA), talvez tenham visto nisso uma oportunidade de agir logo, como quem diz, ‘vamos pegar agora o que dá, e depois a gente discute o resto’”, considera Amorim.
“O diabo mora nos detalhes, e a minha suspeita é que os detalhes não devem ser bons”, considera.
Fonte: Agência PT de Notícias com informações da BBC