Celso Amorim tem mais de 50 anos de carreira como diplomata. Do alto dessa experiência, que atravessa o período da ditadura e os governos da redemocratização, ele confessa que nunca viu algo como o que está acontecendo agora no governo federal e, em especial, na política externa brasileira.
“Nunca vi nada parecido nem na época da ditadura militar, que era muito ruim obviamente, por outros aspectos, mas a política externa, dentro de limites que eram estreitos, procurava manter um mínimo de decência. O que temos agora é algo impressionante. Você não sabe bem se é a loucura a serviço do oportunismo ou se é o oportunismo a serviço da loucura”, afirma.
No governo Lula, Amorim comandou uma política externa que levou o Brasil a uma posição protagonista como mediador de conflitos na América Latina e em outras regiões do mundo, como ocorreu no caso do acordo nuclear com o Irã. Além disso, junto com Rússia, China, Índia e África do Sul conformou os BRICS, um bloco político e econômico que vinha adquirindo crescente influência até o golpe que derrubou a presidenta Dilma Rousseff e os acontecimento subsequentes que culminaram com a prisão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e a eleição de Jair Bolsonaro.
Na semana passada, Celso Amorim esteve em Porto Alegre, participando de um debate, no Sindicato dos Bancários, sobre o novo cenário que o Brasil está vivendo. Em entrevista ao Sul21, ele fala sobre a nova política externa do país, confessando que tem dificuldade para fazer um balanço. “A palavra (balanço) pressupõe que haja coisas positivas e negativas. Eu, sinceramente, por mais que queira procurar, não encontro nenhuma coisa positiva. Tudo o que eu vi até aqui foi negativo”, afirma.
Além do derretimento da condição de protagonista e parceiro confiável que o Brasil tinha no cenário internacional, Amorim alerta para o quadro interno vivido pelo país, que está, na sua avaliação, se afastando cada vez mais do plano da lei, da Constituição e da própria democracia. Para o diplomata, a prisão de Lula é um símbolo eloquente dos problemas que enfrentamos. “Estou convencido de que não teremos uma democracia verdadeira no Brasil enquanto o presidente Lula não estiver solto. Precisamos ter o Lula solto para ele participar de um diálogo nacional. Estamos com o país profundamente dividido”, defende.
Por Sul21