Está circulando em grupos de WhatsApp um resumo distorcido e parcial que compara as propostas dos candidatos à presidência da República, Fernando Haddad e Jair Bolsonaro.
A corrente ajuda a propagar mais notícias falsas, dessa vez a respeito do programa de governo de Haddad e Manuela d’Ávila. A manipulação foi apontada por diversos veículos de imprensa.
A rádio Jovem Pan, por exemplo, publicou em seu site notícia sobre o tema, destacando que “Texto que circula no WhatsApp com projetos de Bolsonaro e Haddad tem informações incompletas e falsas“. A rádio explica que checou cada um dos tópicos apontados no texto, denunciando que os itens comparados “possuem desde informações incompletas e até dados falsos”.
Já o Portal UOL, afirmou, com todas as letras, que a “Corrente sobre planos de Bolsonaro e Haddad distorce propostas”, registrando no início da notícia que “É enganosa uma das correntes que circula em redes sociais e no WhatsApp com comparações entre os planos de governo de Jair Bolsonaro (PSL) e Fernando Haddad (PT)”.
Adivinha quem a corrente com fake news buscava atacar? Com base em análise do Projeto Comprova, o texto do UOL Confere explica que “nos 11 tópicos com ideias retiradas dos planos dos candidatos que estão no 2º turno, o texto enganoso, na maioria dos casos, preserva o sentido das proposições de Bolsonaro, mas distorce e tira de contexto as de Haddad”.
Bingo! O candidato das Bolso Fakes é preservado, e seus apoiadores, responsáveis pela comparação, lançam mão de notícias falsas para enganar os brasileiros e brasileiras em geral sobre as propostas de Haddad.
O Projeto Comprova analisou o conteúdo da corrente com o conteúdo dos planos, e a matéria do UOL explicou o que foi publicado de forma de forma distorcida ou fora de contexto.
No site do Estadão, ligado ao jornal O Estado de S. Paulo, a notícia “Comparação de propostas de Bolsonaro e Haddad tem pontos distorcidos e incorretos” demonstra as artimanhas presentes no material.
Publicado no blog Estadão Verifica, também com base na análise do Projeto Comprova, o texto traz à tona, por exemplo, que a comparação infiltra no programa de Haddad temas como controle do Ministério Público, regulação da imprensa e MST. Os três itens não estão presentes no texto verdadeiro do programa, mas foram ali colocados “cirurgicamente” de modo a manipular o leitor e criar nas eleitoras e eleitores uma sensação sobre o plano que não confere com o que está escrito e proposto nele.
Além disso, o material “comparativo” em questão deixa de fora assuntos fundamentais como Educação, Saúde e Geração de Empregos – assuntos para os quais as propostas de Haddad são muito mais consistentes e interessantes que as do adversário.
Veja abaixo quais são as reais propostas e as reais diferenças entre os candidatos.
IMPOSTOS
– Haddad: Propõe criar e implantar o IMPOSTO DE RENDA JUSTO, para isentar quem ganha até cinco salários mínimos, e aumentar as alíquotas para os super ricos. Propõe uma reforma tributária baseada na tributação direta sobre lucros e dividendos e a criação e implementação gradual de Imposto sobre Valor Agregado (IVA), que substitua a atual estrutura de impostos indiretos. Sem aumentar a carga tributária, diminuir impostos sobre produção e consumo, especialmente da cesta básica, e aumentar sobre grandes rendas e grandes patrimônios (cobrar IPVA de jatinhos e helicópteros particulares, que atualmente não pagam nada).
– Bolsonaro: Teve que atualizar seu plano de governo, após o chefe da sua equipe economia, Paulo Guedes, propôs nova CPMF e imposto de renda único de 20% para todos os salários. Pressionando, Bolsonaro voltou atrás e passou a incorporam propostas como “melhorar a carga tributária brasileira fazendo com que os que pagam muito paguem menos e os que sonegam e burlam, paguem mais”. (p.58).
IMPRENSA
- Haddad: Visando fortalecer a democracia, propõe ampliar as vozes e representações por meio da democratização dos meios, promovendo todos os pontos de vista sobre assuntos importantes. Ampliar as rádios e TVs comunitárias para assegurar pluralidade e diversidade da comunicação (p. 16) e restaurar o projeto da Empresa Brasil de Comunicação (EBC); além da “desconcentração dos investimentos publicitários estatais”.
– Bolsonaro: Claramente pouco favorável à diversidade na mídia, o candidato que foge de debates e só concede entrevistas para o canal cujo o dono é seu apoiador declarado, Bolsonaro não propõe qualquer mudança, mantendo a mídia no controle na mão apenas de algumas pessoas. (p. 7).
SEGURANÇA (presídios e combate as drogas)
– Haddad: propõe o combate permanente ao crime, qualificando e equipando as polícias com inteligência e alta tecnologia para elevar a taxa de esclarecimento da autoria dos crimes. Implementar um Plano Nacional de Redução de Homicídios, articulado com Estados, DF e Municípios. Fortalecer e ampliar a Polícia Federal para o combate sem tréguas ao crime organizado, sobretudo ligado ao tráfico de drogas e armas, liberando as polícias estaduais para atuarem no combate a outros crimes como homicídios, estupros, roubos etc. (pp. 31 a 33). Envolver a área de inteligência do Exército no controle ao tráfico de armas, já que mais armas em circulação significam mais mortes de inocentes, conforme demonstram todas as pesquisas nacionais e internacionais.
Fortalecer e ampliar a Polícia Federal para fazer o combate implacável ao tráfico de drogas, usando inteligência policial e alta tecnologia para destruir o sistema financeiro alimentado com o dinheiro do tráfico. Transferir os líderes do tráfico para os presídios federais de segurança máxima e apoiar os Estados e as polícias estaduais para libertar os presídios do controle das facções criminosas. Exigir trabalho e estudo do preso e mudar as prisões, que hoje são verdadeiras escolas de crime.
– Bolsonaro: distribuir armas para população, que terá que cuidar de sua própria segurança, um papel que é de responsabilidade do Estado. Além disso defende medidas que irão aumentar a superlotação dos presídios, como a redução da maioridade penal, facilitando o trabalho das facções no recrutamento de novos criminosos, sobretudo dos jovens negros e pobres, principal alvo dos assassinatos no país, além de dar carta branca para que os policiais matem sem investigação.
GERAÇÃO DE EMPREGOS
– Haddad: criar o PROGRAMA MEU EMPREGO DE NOVO para enfrentar a tragédia do desemprego, por meio da retomada dos investimentos públicos, crédito barato para quem quer comprar e investir e desoneração tributária dos pobres e da classe média, bem como retomada imediata das 2.800 grandes obras paradas, dos investimentos da Petrobras e do Programa Minha Casa Minha Vida (pp.38 a 40).
– Bolsonaro: propõe uma radicalização da agenda fracassada do Governo Temer, com retirada de direitos trabalhistas (p.64), privatizações (p.56, 60 e 61) e ajuste fiscal (p. 55). Acredita que os brasileiros devem escolher entre emprego ou direitos. Bolsonaro afirmou “Menos direito e emprego ou todos os direitos e desemprego.”
SALÁRIO MÍNIMO
– Haddad: criar o programa SALÁRIO MÍNIMO FORTE para que todo dia 1º de janeiro o valor do salário mínimo tenha aumento real. O reajuste continuará a ser definido por meio da fórmula que garante variação da inflação do ano anterior, acrescida do aumento do PIB de dois anos antes. Quando a inflação for de 3,5% e o crescimento do PIB for de 3,5%, por exemplo, o aumento será de 7%. Mesmo quando o PIB não crescer, haverá aumento real do salário mínimo. Isso elevará o poder de compra do trabalhador e do aposentado, fazendo a roda da economia girar (p.40).
– Bolsonaro: não há referência ao salário mínimo em seu Plano de Governo. Porém, como deputado, Bolsonaro votou contra as leis que garantiam o aumento real para o salário mínimo. Também votou a favor da Emenda do Teto dos Gastos que impede a expansão dos investimentos públicos e interrompe a política de valorização do salário mínimo.
POLÍTICA PARA MULHERES
– Haddad: Propõe políticas para as mulheres visando a igualdade de gênero, como a igualdade salarial entre homens e mulheres no mercado de trabalho. Investir na criação de creches e na construção de moradias em nome das mulheres pelo Minha Casa Minha Vida. Implantar políticas de promoção da igualdade de oportunidades para as mulheres em todas as áreas e fiscalizar o cumprimento dos direitos conquistados pelas empregadas domésticas (p. 20).
–Bolsonaro: Não tem propostas de políticas para as mulheres. É contra os direitos trabalhistas das trabalhadoras domésticas: “Eu fui o único Parlamentar que votou nos dois turnos contra todos os direitos trabalhistas da empregada doméstica”.
DEFESA DA DEMOCRACIA
– Haddad: defende a democracia, o respeito ao resultado das urnas e a participação do povo nas decisões. É contra toda e qualquer ditadura, de esquerda ou de direita.
– Bolsonaro: Defende a ditadura militar, que segundo ele devia ter matado e torturado mais, constrangendo o Brasil perante o mundo inteiro.
NOME SUJO
– Haddad: criar o Programa DÍVIDA ZERO, com linhas de crédito em Banco público com juros mais baixos e prazos mais longos, para que as pessoas com nome sujo no SPC e SERASA possam renegociar suas dívidas e andar de cabeça erguida (p. 38).
– Bolsonaro: não tem proposta. As pessoas que não estão conseguindo pagar suas dívidas seguirão com nome sujo.
DIREITOS TRABALHISTAS
– Haddad: Revogar a reforma trabalhista do governo Temer – que permite o trabalho da mulher grávida em local insalubre, a terceirização irrestrita e reduz vários direitos do povo trabalhador -, criar o Estatuto do Trabalho de forma negociada com empregados e empregadores e retomar a geração de empregos com carteira assinada (p. 37).
– Bolsonaro: votou a favor da reforma trabalhista de Temer e acredita que os brasileiros devem escolher entre emprego ou direitos. Bolsonaro defendeu flexibilizar o combate ao trabalho análogo à escravidão: “Tem gente do Ministério do Público, do Judiciário, que entende que o trabalho análogo à escravidão também é escravo. Tem que botar um ponto final nisso. Análogo é uma coisa e escravo é outra”.
INTERNET BANDA LARGA
– Haddad: Criar o programa BRASIL 100% ONLINE para levar internet rápida a todos os lugares com preço acessível. Para isso, conectar mais de 2 mil municípios à rede fibra ótica e garantir que o Satélite Geoestacionário brasileiro não seja privatizado e sim usado para oferecer conexão em municípios de pequeno porte, áreas rurais e distritos isolados (p. 16 e 17).
– Bolsonaro: não tem proposta.
SAÚDE
– Haddad: Priorizar a saúde do povo, aumentando os recursos para o SUS e revogando a Emenda do Teto dos Gastos do governo Temer que congelou os investimentos em saúde por 20 anos. Retomar e ampliar o programa Mais Médicos e criar as Clínicas de Especialidades Médicas para garantir consultas com médicos especialistas, atendimento com fisioterapeutas e psicólogos, exames e cirurgias de média complexidade, com prontuário eletrônico e transporte gratuito. Ampliar o Farmácia Popular para garantir que os idosos tenham acesso gratuito a fraldas geriátricas e remédios para Mal de Parkinson, dentre outros (pp. 28 e 29).
– Bolsonaro: Não pretende aumentar os recursos para o SUS e defende a Emenda do
Teto dos Gastos de Temer (p.03).
ALIMENTAÇÃO SAUDÁVEL
– Haddad: implementar o Programa Nacional de Redução de Agrotóxicos, com proibição de uso no Brasil daqueles que já foram banidos em outros países por serem comprovadamente cancerígenos. Propõe incentivos para que os agricultores substituam agrotóxicos por biopesticidas e defensivos agrícolas mais seguros e menos agressivos à saúde (p. 55).
– Bolsonaro: é favorável ao PL do Veneno defendido pela Bancada Ruralista desde 2015, que propõe menos rigor na fiscalização e registro dos agrotóxicos, submetendo o Brasil ao aprofundamento da contaminação humana e ambiental.
MEIO AMBIENTE
– Haddad: compromisso com a proteção das florestas e com a meta de zerar o desmatamento até. Defende mais investimento em energia renovável, com 2 milhões de casas com energia solar, crédito e benefícios para o agricultor que queira produzir com sustentabilidade e fortalecimento do Ministério do Meio Ambiente e os órgãos ambientais. Entende que o governo federal deve liderar os esforços para viabilizar o cumprimento dos tratados internacionais, tais como o Acordo de Paris (mudança climática) (pp. 47 – 59).
– Bolsonaro: Não há menção a nenhuma política ambiental no programa de governo. Em declarações públicas, defendeu que o Brasil se retire de acordos internacionais de adaptação às mudanças climáticas (Acordo de Paris), o fim do Ministério do Meio Ambiente e a exploração de minérios na Amazônia.
EDUCAÇÃO BÁSICA
– Haddad: Dar prioridade absoluta à educação. Retomar os investimentos na área, ampliando a participação do governo federal no financiamento da educação por meio do Fundeb permanente. Cumprir o Plano Nacional de Educação (PNE). Fortalecer a formação dos professores, valorizar todos os profissionais da educação, promover uma forte política nacional de alfabetização, investir na inclusão digital dos alunos e ampliar as escolas em tempo integral (pp. 24 a 27).
– Bolsonaro: Implantar educação à distância desde o ensino fundamental (crianças iriam para a escola apenas para fazer as provas).
ENSINO MÉDIO
– Haddad: Enfrentar a crise do ensino médio por meio da criação do programa ENSINO MÉDIO FEDERAL, um pacote de ações para melhorar a qualidade da educação da juventude, que inclui: o acompanhamento das escolas estaduais que mais precisam pelos Institutos Federais, de qualidade comprovada; investimento federal para levar banda larga, esporte e cultura para as escolas de ensino médio; bolsa para o jovem se dedicar apenas aos estudos; mais Escolas Técnicas federais, sobretudo nas cidades do interior; e ampliação de vagas gratuitas de ensino médio no SENAI, SENAC e todo o Sistema S. (p. 26 – 27)
– Bolsonaro: Implantar educação à distância, inclusive para o ensino médio (jovens iriam para a escola apenas para fazer as provas).
ENSINO SUPERIOR E PROFISSIONALIZANTE
– Haddad: Abriu as portas das faculdades e universidades para todos os jovens, especialmente para os que estudaram nas escolas públicas. Criou o PROUNI e o FIES sem fiador, fez 214 Escolas Técnicas e levou universidades públicas para 126 municípios.
Vai ampliar o acesso da juventude ao ensino superior e profissionalizante, aumentando as universidades e as escolas técnicas, especialmente no interior, fortalecendo o PROUNI e recuperando o FIES. (p. 27)
– Bolsonaro: Não tem propostas de expansão das universidades públicas e escolas técnicas federais. Defende manter a Emenda do Temer que congela os investimentos em educação por 20 anos e ampliar educação à distância no ensino superior.
COTAS E COMBATE à DESIGUALDADE RACIAL
– Haddad: Fortalecer a Lei de Cotas que está abrindo as portas da universidade para os filhos dos trabalhadores (p.25). Fortalecer ações afirmativas nos serviços públicos para corrigir as desigualdades raciais. Adotar medidas para a valorização dos negros e negras, visando a equiparação salarial e maior presença nos postos de chefia e direção das empresas privadas. Desenvolver campanhas e ampliar a fiscalização contra discriminação racial nas relações trabalhistas (p. 20). Implementar o Plano Nacional de Redução da Mortalidade da Juventude Negra e Periférica.
– Bolsonaro: Não tem propostas para combater as desigualdades raciais. Defende reduzir ou até acabar com as cotas nas universidades públicas.
Fonte: Lula.com.br