Os trabalhadores venezuelanos terão um aumento de 95% no salário mínimo. O anúncio foi feito pelo presidente Nicolás Maduro em uma entrevista coletiva nesta segunda-feira (30). “Preocupado com os trabalhadores e as trabalhadoras do país, decidi aumentar o salário mínimo de 392 mil bolívares para 1 milhão de bolívares, e o Cesta Ticket Socialista (ticket alimentação) passará de 915 mil para 1.550 milhão de bolívares”, informou o presidente. Desta forma, os venezuelanos passarão a receber 2.555 milhões de bolívares. Já os aposentados, pensionistas e beneficiários dos programas de proteção social tiveram incremento de 56% do valor recebido.
A medida visa responder à desvalorização do salário mínimo provocada pela crise econômica, pela "guerra cambiária" e pela hiperinflação que vive o país nos últimos quatro anos. A crise desencadeada pela queda do preço do barril de petróleo afetou profundamente a economia rentista venezuelana.
Além disso, a "guerra cambiária" produzida pelo sistema monetário aumentou o valor do dólar paralelo, fazendo com que subissem os preços dos produtos, na sua maioria importados, causando assim uma situação de hiperinflação. Diante deste cenário de disputa no câmbio, o cálculo do valor do salário mínimo em dólares fica comprometido.
“A guerra econômica que estão fazendo contra a Venezuela é a mesma de 2015, quando as empresas que controlam a produção e a distribuição de produtos provocaram escassez no país. Naquela época, sofríamos com grandes filas nos supermercados. Agora, o sofrimento é com os altos preços, que sobem de forma irracional”, explica a deputada constituinte Maria Alejandra Díaz, em entrevista à teleSUR.
O decreto de aumento tem como data-base o dia 15 abril, portanto, nesta segunda-feira (30) deve ser depositado o salário e o valor retroativo. O anúncio do presidente Maduro de aumento salarial foi adiantado, se antecipando ao 1° de maio, Dia Internacional dos Trabalhadores e das Trabalhadoras.
Inflação
Em 2015, a Venezuela viveu sua pior crise de escassez de alimentos, que aconteceu durante os meses prévios às eleições da Assembleia Nacional (Congresso). Diante desse quadro, a oposição alcançou uma maioria qualificada, com dois terços dos parlamentares eleitos pelos partidos de direita. Desde essa época, o país vive a mais grave instabilidade econômica dos últimos 20 anos, segundo o economista Manuel Sutherland, em artigo publicado recentemente da revista econômica venezuelana Nueva Sociedad.
“Pelo quarto ano consecutivo, a Venezuela apresenta a inflação mais alta do mundo, estimada em 2.616% em 2017. Em janeiro de 2018, a inflação na Venezuela alcançou 95% e o acumulado do ano foi de 4.520%. No setor de alimentos, o número é ainda maior, 5.605%. Desse modo, o país entrou em um cenário de hiperinflação, no qual os preços sobem diariamente”, explica Sutherland, diretor do Centro de Pesquisa e Formação Operária.
Como medida de contenção da crise, o Estado venezuelano criou um sistema estatal de distribuição da alimentos. Por meio dos Comitês Locais de Abastecimento e Produção (CLAP), o governo de Nicolás Maduro fornece uma caixa de alimentos básicos com 24 produtos, por 75 mil bolívares. O presidente afirma que essa iniciativa tem como objetivo combater os efeitos da chamada “guerra econômica”, que foi agravada pelo bloqueio econômico imposto pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, desde agosto de 2017.
“Estamos em uma crise revolucionaria no campo econômico. Onde o velho não termina de morrer, antes disso esperneia, e o novo ainda não nasceu. O velho sistema que está morrendo se transformou em um zumbi. A "economia zumbi" é que está maltratando a Venezuela. Vou fazer uma revolução econômica, não tenho medo, vocês vão ver”, destacou Nicolás Maduro, nessa sexta-feira (30).
O mandatário garantiu ainda que, se vencer as eleições presidenciais de 20 de maio, realizará “mudanças econômicas profundas” e haverá um “aprofundamento do modelo socialista” na Venezuela nos meses seguintes. “Podemos fazer mais do que temos feito. Isso é uma autocrítica. Podemos fazer mais no setor produtivo e na distribuição de alimentos. Peço apoio de todos vocês, porque juntos podemos tudo, esse é meu lema”, ressaltou o presidente venezuelano.