Da RBA - No aniversário de 64 anos da lei que criou a Petrobras, na próxima terça-feira (3), trabalhadores de diversas categorias vão se concentrar na Avenida Presidente Vargas, no centro do Rio de Janeiro, para um ato em defesa das empresas públicas e da soberania nacional.
"Não se trata apenas da defesa do emprego, o que já seria uma questão importante, mas de mostrar à população os efeitos da política de privatização e desmonte do setor público encaminhada pelo governo Temer, que poderá se traduzir, por exemplo, em aumentos das tarifas e do preço dos combustíveis, além da questão geopolítica. Estamos defendendo o papel estratégico que o Brasil vai ter nos próximos anos", afirma o presidente da CUT, Vagner Freitas.
O ato está marcado para as 11h da terça, com uma concentração diante do prédio da Eletrobras, empresa na mira privatista do governo. De lá, os manifestantes farão passeata até outro símbolo estatal, a Petrobras, também na região central da capital fluminense, passando no caminho pelo BNDES.
A atividade será reforçada por integrantes do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), que estarão realizando o seu oitavo encontro nacional e deverá vir em outra passeata, por volta do meio-dia. Está prevista a presença do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Abrir mão da soberania foi um dos grandes motivadores do impeachment, avalia o presidente da CUT. "Existe uma determinação dos golpistas de vender o Brasil a preço de banana", afirma, dizendo-se cada vez mais convencido da "ingerência internacional" no movimento que derrubou Dilma Rousseff, no ano passado.
A discussão não se limita ao emprego ou a venda de empregos, mas também trata da posse de terras e águas, das riquezas nacionais, observa Vagner. "Queremos chamar a atenção da sociedade brasileira. Além das questões inerentes ao movimento sindical, queremos dizer: você será prejudicado enquanto brasileiro." Ele questiona se as privatizações já ocorridas no setor elétrico resultaram em barateamento das contas.
Em relação ao estratégico pré-sal, o dirigente afirma que se trata de um setor que deve ficar sob o jugo do governo, "voltado primeiramente para os interesses dos brasileiros", acrescentando que o atual governo caminha exatamente na direção contrária. "Esse governo não tem o menor pudor de cumprir esse papel entreguista. O entreguismo é mais acentuado que o golpismo."
O debate é sobre o futuro do Brasil e seu modelo de inserção no mundo, se como protagonista ou submisso. Como diz o presidente da CUT, se o país será um ator disputando o comércio internacional ou "uma colônia exportadora de matéria-prima".
Lesa-pátria
Para o presidente da Federação Nacional dos Urbanitários (FNU), Pedro Tabajara Blóis Rosário, é momento de conscientizar a população sobre as consequências da entrega de patrimônio nacional sem qualquer aval da sociedade. "É um balcão de negócios", diz, apontando a presença crescente de europeus e, principalmente, chineses no parque elétrico brasileiro, em caminho oposto aos dos Estados Unidos, por exemplo.
"Esse governo age com total irresponsabilidade na condução desse processo. Para nós, é uma crime de lesa-pátria", afirma Pedro. "A questão do golpe não foi à toa. Isso é compromisso firmado (com o capital internacional). O discurso de que vai melhorar a vida da população é pura balela." Em nome de um suposto "ajuste", diz, o governo se desfaz das riquezas do país. "E depois que não tiver mais patrimônio?", questiona. "Hoje o país tem aquela placa de 'vende-se'."
Ele aponta ainda prováveis consequências do desmonte do setor público. "Quem ganhar a eleição vai pegar um país arrasado economicamente. A população vai deixar de ter acesso a serviços essenciais." Ele cita um exemplo recente, da Celg, distribuidora de energia em Goiás, vendida no final do passado à italiana Enel, que apenas este ano já teria demitido em torno de 800 trabalhadores. "É mão de obra qualificada." No recente leilão da Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig), a Enel arrematou a usina hidrelétrica de Volta Grande, em Minas Gerais. Outras duas foram adquiridas pela Engie (capital francês) e a quarta pela State Power (chinesa).
Durante o ato no Rio, será lançada a campanha "Defenda a Caixa você também", iniciativa das associações de pessoal do banco com a Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf-CUT) e centrais sindicais. "A Caixa é o banco que mais investe em projetos de construção de moradias populares, concede incentivo ao esporte, dá apoio à cultura, financia a educação e as micro e pequenas empresas, atuando como uma empresa pública fundamental para o desenvolvimento econômico e social do país", argumenta o presidente da Federação Nacional das Associações do Pessoal da Caixa Econômica Federal (Fenae), Jair Pedro Ferreira.
A entidade lembra que a carteira imobiliária da Caixa somou R$ 421,4 bilhões no primeiro semestre, com ganho de 1,3 ponto percentual de participação no mercado – o banco é líder com 68,1%. As operações de saneamento e infraestrutura cresceram 5,3% no mesmo período, atingindo quase R$ 80 bilhões. A Caixa é responsável ainda pelo pagamento de benefícios sociais, incluindo programas voltados ao trabalhador. "O projeto do governo visa o enfraquecimento e a entrega de áreas da Caixa para a iniciativa privada, inclusive acabando com o papel social", diz Jair.
Na semana passada, o coordenador da Federação Única dos Petroleiros (FUP), José Maria Rangel,afirmou que o ato ganhava dimensão ainda maior pelo quadro de "liquidação" do Estado brasileiro pelo governo Temer. "Eles tentam passar a ideia de que o que é público é ruim e corrupto, e o que é bom é de fato ter a iniciativa privada à frente de todo o processo econômico", disse o dirigente, lembrando do papel importante que as empresas públicas tiveram durante a crise financeira deflagrada em 2008, reduzindo o impacto no Brasil. Isso é uma demonstração da importância do Estado para o desenvolvimento de uma nação."
Também na terça, trabalhadores na Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (ECT) devem realizar manifestação em Brasília, aderindo ao ato nacional em defesa das empresas públicas. Os Correios também estão no foco do governo para privatização. Os funcionários da empresa estão em greve, que na última quinta-feira foi considerada abusiva pelo Tribunal Superior do Trabalho (TST).
Com informações da Fenae