Brasil de Fato - por Kátia Guimarães. A Operação Lava Jato revelou um verdadeiro escândalo de corrupção e suborno de autoridades do Executivo e do Congresso Nacional envolvendo milhões e milhões de reais, mas até agora nada foi feito em relação ao sistema financeiro, justamente por onde passa todo o dinheiro pago em propina no Brasil e no exterior, como revelam as próprias investigações do Ministério Público. Outro fato que chama atenção é que o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, que foi presidente do Conselho de
Administração da JBS, também ficou de fora das investigações.
Homem forte do governo golpista de Michel Temer, Meirelles trabalhou na empresa entre 2012 e 2016. A JBS é alvo das investigações, e seus donos, que delataram o presidente Temer e seus aliados mais próximos, estão presos sob acusação de corrupção e uso de informação privilegiada. O ministro está à frente de todas as medidas neoliberais que estão levando ao desmonte do Estado e ao fim dos direitos sociais dos trabalhadores. E, agora, é apontado como o principal candidato à Presidência da República nas eleições de 2018, sob as benções do mercado financeiro e da Rede Globo.
Essa seletividade da Operação Lava Jato foi denunciada, nesta quinta-feira (14/09), pelos senadores Lindbergh Farias (PT-RJ) e Roberto Requião (PMDB-PR), em discurso no plenário. Em conversa com o Brasil de Fato, o senador do PMDB disse haver lentidão no processo de investigação e que os bancos estão mandando no país. Segundo ele, os doleiros usam o sistema bancário como braço operacional para a transferências do dinheiro sujo e fazem a repatriação, como se o dinheiro fosse dinheiro limpo, sem qualquer investigação por parte do Banco Central, órgão responsável pelo controle do sistema financeiro brasileiro.
“O Banco Central está a serviço dos bancos e eu não sei como o Ministério Público não enxerga isso. Ao invés de agir contra a origem do problema, combatendo a corrupção subalterna. Eu acho que o grande mérito da Lava Jato é ter começado, o demérito é a seletividade e a perseguição a setores ligados ao progressismo e ao nacionalismo, esquecendo esse movimento de globalização do sistema bancário mundial e do fim da soberania do país de uma forma quase absoluta", opina.
No plenário, Requião usou de ironia para apontar o “mistério” que ronda a Lava Jato por ignorar a participação dos bancos na remessa de dinheiro para o exterior para a lavagem de dinheiro e pagamento de propinas no Brasil e no exterior.
“O enigma insondável é este: como se pode transferir milhões de dólares, bilhões de reais do país para fora, assim como suprir caixas milionárias em espécie — dinheiro aos borbotões —, transbordando sacolas e malas como se vê nas fotos, sem a cumplicidade de um Banco do Brasil, aqui e no exterior? Peço que os queridos operadores da Lava Jato, Promotores e Promotoras, Delegados Federais consultem suas inteligências para desvelar essa incógnita. Talvez, com algum esforço comum, seja possível que ao final possamos esclarecê-lo”, afirmou.
Um exemplo, citado pelo senador, é o fato de os delatores da JBS e da empreiteira Odebrecht terem denunciado transações fraudulentas que superariam US$ 7,5 bilhões, sem aparentemente deixar rastro algum. O mais surpreendente, acrescenta, é que as denúncias e sentenças proferidas mencionam o crime de lavagem de dinheiro sem citar os bancos. Ao comentar a atuação de Meirelles na JBS, Requião diz que ele foi indicado pela empresa para integrar o governo golpista: “Eu vejo uma proteção explícita, clara a favor das pessoas que estão ao lado fim da soberania brasileira. Não se trata de combate à corrupção, se trata de uma visão entreguista, de uma quinta coluna, que quer acabar com a perspectiva de um Brasil soberano”, afirmou.
Não há como levar a sério as investigações sem que seja apurada a atuação de Meirelles na JBS. É o que pensa o senador Lindbergh. No plenário, ele ressaltou: “Essa política econômica é desastrosa. E eu me pergunto, quando eu vejo esse escândalo da JBS, envolvendo os irmãos Joesley e Wesley, toda essa confusão na delação no Ministério Público, tantos crimes: quem era o Presidente do Conselho de Administração da JBS, a holding da J&F? Era Henrique Meirelles”.
O senador petista questionou ainda toda a proteção a Meirelles, que sequer foi chamado a depor mesmo sendo o principal executivo da holding J&S. Lindbergh ainda se indignou com o fato de a mídia comercial omitir a ligação dele com a empresa: “Ele não sabia de nada? Chega! É impressionante a blindagem da imprensa, dos órgãos de comunicação: ‘Não falem do Meirelles, não podem falar do Meirelles’. É no mínimo estranho que o Meirelles não soubesse de nada. Ele não era Presidente do Conselho Fiscal, ele era Presidente do Conselho de Administração. Ele que dirigia.
Quando surgiu o escândalo da JBS, vimos a característica dessas corporações. Eles ganhavam dinheiro em várias atividades produtivas, mas estavam ganhando muito dinheiro no câmbio, em aplicação, em títulos da dívida pública”.