A voz sempre foi o nosso principal veículo de comunicação. Desde o primeiro “uga uga” nos utilizamos de sons e ruídos encadeados com um só objetivo: passar uma mensagem qualquer seja. Assim a comunicação vocal evoluiu durante os mais de 5 milênios de existência humana, até, finalmente, organizar toda nossa comunicação oral e escrita.
Mas, para além disso, a voz também é algo que ajuda muito a definir como nós nos mostramos para o mundo e como este mundo nos percebe. Temos, hoje, na voz, timbres tão únicos que se tornam marcas registradas daqueles que ostentam sons tão especiais. A mesma voz que usamos para dar bom dia é a voz que move multidões, que sinaliza cuidados e que nos ensina todo dia, mesmo que com diferentes emissores, algo que levaremos de alguma forma por nossas vidas. Há, contudo, vozes que poucos escutam – ou fingem não escutar.
Rodadas mais de duas horas de ônibus sertão adentro avistamos o assentamento Maria Lindaura, em Jaboatã. No acampamento, aguardavam o ilustre visitante no Sergipe, ansiosas, algo em torno de duas mil e quinhentas pessoas. Alguns, como de costume, já com seus celulares em mãos para eternizar o momento único de estar próximo a um dos únicos brasileiros na política que tem uma boa audição. Outros, apenas aguardando curiosos como diabos seria aquela experiência.
Os olhos apaixonados e a pele sedenta por qualquer toque no ídolo que seja, nos momentos certos, dão lugar a uma audição atenta, quase que hipnótica, daquele que muitos sonhavam em ver. Mas se engana quem pensa que aquela voz fala sozinha. Por mais que acreditemos que sim, é aquela voz que representa nossos sonhos, anseios, medos e esperanças. E, por mais que pareça uma coincidência, essa voz às vezes tarda, mas é difícil de falhar.
O que os acampantes do assentamento Maria Lindaura ouviram nessa linda tarde de 22/08 não foi somente a voz de um querido ex-presidente, mas, na verdade, a deles próprios, já que, por obra do destino, quis o mundo que no pequeno nordestino de 71 anos de idade, de voz rouca, única, característica e facilmente reconhecível que reconhecessem a si próprios. Porque, por mais que a voz de Lula não tenha a mesma saúde que antigamente, uma coisa é certa: sua audição para a voz do povo continua afiadíssima!
Fonte> Agência PT - por Leo Casalinho