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Especialista francês defende gestão cooperativa para promover saúde psíquica no trabalho


Foto: TST

O especialista francês Christophe Dejours, titular da cadeira de Psicanálise, Saúde e Trabalho do Conservatório Nacional de Artes e Ofícios, em Paris (França), apontou, em conferência realizada nesta terça-feira (22) no Tribunal Superior do Trabalho, a relação entre excesso de trabalho, métodos de gestão e sofrimento psíquico. Na palestra, que teve como tema “Saúde Psíquica e Trabalho Judicial”, Dejours partiu de seus estudos em relação às condições de trabalho dos magistrados franceses para chamar atenção para os riscos do atual modelo, excessivamente focado na produtividade, e defendeu a gestão cooperativa como forma de combater as diversas formas de assédio.

New Public Management

Sempre partindo do caso francês, Dejours falou sobre a mudança dos métodos de gestão ocorrida no serviço público, com a adoção, nos últimos anos, do chamado New Public Management, modelo que privilegia os números, os prazos e a produtividade. Segundo ele, a mudança desencadeou diversos problemas relacionados ao trabalho. No caso da magistratura, os principais aspectos são a sobrecarga no trabalho, a pressão psicológica e, em última análise, o assédio.

Como exemplo, o professor relatou o caso paradigmático do suicídio do juiz francês Philippe Tran Van, em 2011, que levou o Tribunal Administrativo de Cergy a reconhecer, em junho deste ano, a ligação de causalidade entre o meio profissional e o suicídio, condenando o Estado francês a indenizar a esposa, os dois filhos e a mãe do juiz. “O tribunal percebeu que a carga de trabalho excessiva foi o fator que desencadeou o suicídio”, afirmou. Citou também um artigo, ainda a ser publicado, que considera o suicídio consequência de uma profunda devastação psicológica, ligada principalmente ao sofrimento ético pelo qual o juiz passava.

O esgotamento profissional, a morte súbita e o abuso no uso de medicamentos são exemplos dos males provocados pelo excesso de trabalho. Segundo ele, os problemas também podem ocorrer fora do ambiente de trabalho, atingindo os familiares.

Sofrimento ético

Um dos conceitos desenvolvidos por Dejours é o de sofrimento ético. Quando a carga de trabalho e os quantitativos de produção ultrapassam os limites intelectuais, físicos e psíquicos, o profissional se vê pressionado a adotar atitudes que antes reprovava, a fim de atender a essa demanda – como projetar a cobrança em seus subordinados, ou delegar parte de seu trabalho a terceiros de sua confiança. “Esse sofrimento é extremamente grave, e tem um papel importantíssimo na questão do suicídio no âmbito do trabalho”, observou.

Para Dejours, os métodos de gestão baseados apenas na produtividade introduzem dois dispositivos que mexem profundamente com a organização do trabalho: a padronização do modus operandi (semelhante à produção industrial), que acaba deteriorando a dimensão subjetiva da profissão, e a avaliação individual de desempenho, baseada em objetivos quantitativos, que exacerba a competitividade e leva à deterioração da vida coletiva e das relações no trabalho.

“A solidão e o medo de não conseguir alcançar os objetivos se impõem de forma progressiva”, afirma. Acrescentando-se a isso a questão de “fazer o trabalho de qualquer jeito”, o resultado é a degradação da qualidade do serviço e da saúde mental. “É um movimento que transforma não apenas o mundo do trabalho, mas também as relações sociais”.

Gestão colaborativa

O especialista propõe uma ação racional em favor da prevenção dos problemas da “governança por números”, como direcionar o foco das avaliações no que chama de “trabalho vivo” dos magistrados e servidores, que envolve a aquisição de novas capacidades e o trabalho sobre si mesmo, e não nos números.

Outra ação seria a criação de espaços de discussão para as dificuldades enfrentadas, a fim de buscar soluções e elaborar compromissos entre os juízes, a partir de suas limitações, para que exista um consenso entre os números a serem alcançados e o trabalho bem feito.

Dejours acredita que, para estabelecer uma verdadeira cooperação e promover ganhos em termo de quantidade e qualidade, é preciso dar prioridade à avaliação do trabalho vivo, tanto de magistrados quanto de servidores. "A reestruturação da cooperação é o meio essencial para que os magistrados em dificuldade possam sair do medo e, sobretudo, da solidão. É o meio mais eficiente para vencer o sofrimento ético, um caminho intermediário decisivo", concluiu.

Fonte: TST - POR Nathália Valente de Freitas/CF/Foto: TST

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