Prevista para a próxima quarta-feira (2), a votação da denúncia contra Michel Temer (PMDB) no plenário da Câmara dos Deputados promete um duelo entre os dois pratos de uma constrangedora balança: de um lado, os R$ 300 bilhões distribuídos pelo atual ocupante do Planalto a integrantes de sua base, do outro, o desgaste que terá que ser enfrentado pelos aliados que decidirem retribuir ao abraço de um governo que se afoga em apenas 2% de aprovação popular, segundo pesquisa divulgada na última terça-feira (25) pelo Instituto Ipsos e jornal O Globo.
Temer já conseguiu aprovar um relatório contra o prosseguimento do processo contra ele na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara, graças à substituição de última hora de 17 membros do colegiado. Para a votação em plenário, o presidente “tem comprado parlamentares à luz do dia”, denuncia o deputado Paulo Pimenta (PT-RS). Os parlamentares devem aceitar ou não a denúncia feita pela Procurador-Geral da República Rodrigo Janot. Se for aceita, ela segue para o Supremo Tribunal Federal.
Liberação de recursos
“Nós estimamos que a compra de votos gira em torno de R$ 300 bilhões”, revela Pimenta. O esquema se constitui em liberação de verbas, cargos e outros benefícios. “O parlamentar se declara indeciso, diz que ainda não definiu o voto. Se você acompanhar o ‘Diário Oficial’, a liberação de emendas de recursos segue uma ordem cronológica de mudança de votos. Ele é chamado ao Palácio do Planalto, submetido a conversas e agendas, ele adquire aquilo que ele quer e muda o voto”, explica o petista.
A bancada ruralista apresenta uma conta: se vocês anistiarem essa dívida, nós votaremos contra a denúncia. Isso está acontecendo de maneira declarada.
Só no chamado Refis, programa que, na prática, equivale a uma anistia de dívidas ao Fisco, serão R$ 220 bilhões em perdões. O projeto de lei já teve pedido de veto pela Receita Federal e pela Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional. Segundo Pimenta, a proposta vai beneficiar parlamentares e, sobretudo, as empresas que financiaram suas campanhas.
O Funrural é outro projeto que entra na moeda de troca do golpista. O projeto vai anistiar dívidas previdenciárias de grandes produtores rurais que podem chegar a R$ 49 bilhões.
“A bancada ruralista apresenta uma conta: se vocês anistiarem essa dívida, nós votaremos contra a denúncia. Isso está acontecendo de maneira declarada, é um crime assumido publicamente, com absoluta complacência por parte da mídia e do próprio poder judiciário”, diz ele. Outro projeto para beneficiar os ruralistas é a modificação na demarcação de terras indígenas, que vai retirar das mãos dos povos tradicionais um patrimônio de R$ 19 bilhões em terras públicas. O projeto entende que apenas as terras indígenas demarcadas à época da Constituição de 1988 serão reconhecidas. Todas as outras delimitadas posteriormente serão desconsideradas.
Mostrar a cara O líder do PT na Câmara, deputado Carlos Zarattini (SP), chama a atenção para o outro lado dessa moeda. Com apenas 2% de aprovação popular—percentual inferior até mesmo à margem de erro da pesquisa Ipsos/O Globo, que é de 3% — Temer pode ser um aliado generoso, mas difícil de carregar. Os parlamentares dispostos a apoiá-lo terão que ir ao microfone e declarar, com transmissão ao vivo de rádio e TV, sua conivência com o fim da investigação das acusações de corrupção passiva e obstrução de justiça que pesam sobre o atual ocupante do Planalto.
O desgaste do governo e a inevitável necessidade de mostrar a cara no apoio a Temer podem constranger alguns aliados, ainda que aquinhoados pela farta distribuição de benesses deflagrada pelo governo, acredita Zarattini. Se não agora, na análise de uma próxima denúncia, já que a reação popular não deve tardar, caso Temer se livre desta etapa da investigação.
Fonte: PT no Senado - por Cyntia Campos