A professora palestina Hanan Al Hroub, vencedora do Global Teacher Prize 2016, considerado o Prêmio Nobel da Educação, foi a última a se apresentar em um dos painéis do British Educational Training and Technology (BETT) Show. Já no fim do dia, Hanan dispensou o microfone e o palco, usado pelos demais conferencistas. A exposição tornou-se uma conversa. A professora sentou-se em uma mesa redonda com 15 participantes, a maioria, professores e diretores de escolas. Ao lado, um rapaz traduzia sua fala. A maior parte da audiência não a entendia, com exceção de um casal que estava na mesa e que fazia as perguntas em árabe. Mesmo assim, Hanan fazia questão de olhar nos olhos de cada um à medida que falava.
"Antes de qualquer coisa, os estudantes precisam se sentir bem-vindos, amados. Eles devem ser integrados e não isolados", afirmou. "Eu não começo com regras ou julgamentos. Eu sempre digo que são bons nisso, criativos naquilo e aponto no que precisam melhorar. Digo que vamos fazer isso juntos". A fala de Hanan não é supreendente para quem passou por um curso de licenciatura. Colocar essas ideias em prática, no entanto, foi o que conferiu a ela o Global Teacher Prize.
Hanan cresceu em um campo de refugiados na Palestina. Tornou-se professora depois de os filhos terem presenciado uma cena de violência quando voltavam da escola. Em uma região de conflito, ela dá prioridade a não violência e ao uso da brincadeira para aprender. "O primeiro mês de aula das crianças é de adaptação. Temos menos conteúdos e mais jogos, danças, esportes. Aprender tem que ser prazeroso, o elemento do divertimento deve estar presente", disse.
A professora participou do BETT Show, que ocorre em Londres. A programação começou quarta-feira (25) e vai até o dia 28. Trata-se de um dos grandes eventos mundiais de educação e tecnologia, onde diversas empresas e educadores se reúnem para discutir temas ligados ao setor e apresentar as tendências de mercado. O encontro conta também com a participação de políticos e ministros da Educação de diversos países.
Finalistas
Também participaram de outros debates que ocorreram durante o evento professores classificados entre os dez finalistas do prêmio do ano passado. O divertimento, citado por Hanan, é também comum às praticas do professor japonês Kazuya Takahashi. "Os japoneses adoram testes, acham que assim provam a sabedoria que têm. O que fazemos com nossos projetos é diferente. Acredito que as escolas têm que ser como um playground, os estudantes têm que gostar de ir à escola", defendeu.
No início da apresentação, Takahashi procurou na internet por escolas japonesas. As imagens era todas de locais extremamente organizados,
limpos, com paredes brancas e carteiras enfileiradas. Logo em seguida, mostrou uma imagem da escola onde leciona. Paredes cheias de posters, de cartolinas com desenhos das crianças e salas de aula com carteiras dispostas em círculo.
"Se eu peço a um aluno japonês qualquer para desenvolver um projeto, ele vai me perguntar as regras, ele quer que eu dê o caminho para que execute. Com os nossos alunos, buscamos desenvolver a criatividade. Queremos que sejam criativos e que sejam livres. Basta dar algum tempo para eles, que resolvem os desafios que são propostos de forma criativa", disse.
A realidade de Maarit Rossi é diferente da de Takahashi. Professora finlandesa, ela leciona no país considerado modelo em educação. Lá, os testes não são tão importantes e os estudantes são avaliados ao longo do ano letivo pelas diversas capacidades que desenvolvem. Maarit ensina matemática de forma prática e incentiva projetos que os alunos possam ver no dia a dia o resultado do que estudam. "Temos que tomar conta das nossas crianças, ser professora hoje é construir um pedaço do mundo".
Tecnologia
Em um mundo em constante mudança, Maarit defende que as tecnologias não podem ocupar o lugar da socialização. "Os estudantes são diferentes e precisam de jeitos diferentes de aprender. As crianças são sociais, gostam de vir para a escola por causa de outros estudantes. Temos que usar métodos que incentivem isso. As tecnologias são um caminho, mas não o único", afirmou.
Perguntada sobre o uso de tecnologia, Hanan disse que se sente um peixe fora d'água em um evento como o BETT Show, por não usar nenhuma tecnologia de última geração. "Eu acho que a tecnologia tem um papel importante no ensino. Por exemplo na minha classe eu tenho um projetor e tenho um laptop que tive que comprar com o meu dinheiro para que os estudantes tivessem acesso a algumas imagens necessárias ao aprendizado". Para ela, a tecnologia tem o seu lugar, seu propósito e seu tempo.
Estudantes têm que ter as ferramentas para usar a tecnologia, mas não para ficar estacionados, têm que usar para se conectar, para participar".
Depois da conversa, um dos participantes mostrou a ela um site que disponibiliza conteúdo para refugiados, ainda em construção. Hanan prontamente lhe deu um cartão. "Vamos conversar", disse.
*A repórter viajou a convite da Ascential, organizadora da Bett Educar no Brasil
Fonte: Agência Brasil