Ciência Espacial
Estudo permite conhecer melhor a natureza da matéria escura que parece dominar a gravidade distribuída em todo o universo
Astrônomos de dois times independentes - um do levantamento Dark Energy Survey (DES) e outro da Universidade de Cambridge, na Inglaterra - anunciaram nesta semana o descobrimento de oito novos sistemas estelares satélites da nossa galáxia, a Via Láctea.
Os oito sistemas estelares recém-descobertos são objetos constituídos por estrelas velhas e pobres em elementos químicos pesados, o que é típico das estrelas situadas no halo estelar, o componente mais externo da Via Láctea.
Eles variam em tamanho e distância, mas a maioria tem propriedades mais parecidas com as de uma galáxia anã do que com um aglomerado estelar. Ao serem confirmadas como galáxias anãs, esta descoberta aumenta em um terço o número destes objetos conhecidos e que orbitam em torno da Via Láctea.
"A importância desse achado está não apenas no aumento do censo de satélites da galáxia, mas também no fato de que as propriedades desse sistema de satélites permitem testar os modelos de formação de estruturas cósmicas", explica o coordenador do DES-MW, Santiago.
Modelo
O modelo mais aceito atualmente é de um universo formado por energia escura – um componente misterioso que faz com que ele se expanda de forma acelerada – e por matéria escura, um tipo diferente da matéria que conhecemos.
Esta última seria constituída por prótons, nêutrons e elétrons que se agrupam nos elementos da tabela periódica. As simulações de galáxias como a nossa usando esse modelo parecem prever um número bem maior de satélites do que o observado, daí a necessidade de se ter um censo o mais completo possível para avaliar se o modelo precisa ser revisto.
Outro aspecto importante é o de que as galáxias anãs do halo galáctico são justamente os objetos mais ricos em matéria escura. Seu estudo detalhado, correlacionando esses objetos com mapas de emissão de raios gama, por exemplo, permite conhecer melhor a natureza da partícula de matéria escura que parece dominar a gravidade dentro da galáxia e distribuída em todo o universo.
Os raios gama podem resultar eventos de aniquilação dessas partículas, sendo que a quantidade de eventos de aniquilação depende das propriedades da partícula, entre elas, a massa.
A análise dos mapas de raios gama na direção desses novos satélites está sendo apresentada em outro artigo científico, fruto de observações com a colaboração do Telescópio de Grande Área (Large Area Telescope - LAT).
Até o momento não foram encontrados excessos significativos de raios-gama para os objetos recém-descobertos. Esses resultados demonstram que descobertas em telescópios ópticos podem ser traduzidas em testes de física fundamental.
Grupo de trabalho
O DES é responsável pelo levantamento profundo de uma ampla região do Hemisfério Sul. Com duração prevista de cinco anos, o projeto envolve mais de 300 participantes de dezenas de instituições de vários países, incluindo o Brasil.
A descoberta dos sistemas estelares baseou-se nos dados do primeiro ano do DES, cuja análise foi liderada pelos astrônomos norte-americanos Alex Drlica-Wagner e Keith Bechtol. O grupo brasileiro no projeto internacional - o DES-Brazil – também teve participação ativa no achado.
O grupo de trabalho internacional do DES que lida com a Via Láctea (DES-MW) é coordenado pelo pesquisador da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e membro do DES-Brazil, Basílio Santiago.
A equipe do cientista esteve entre as primeiras a identificar os novos objetos. Parte deles foi reconhecida a partir do uso de ferramentas desenvolvidas pelo DES-Brazil e disponíveis em um portal científico, acessível via web para a colaboração.
A participação brasileira no DES é gerenciada pelo Laboratório Interinstitucional de e-Astronomia (LlneA), cuja responsabilidade é promover a participação de pesquisadores brasileiros em grandes projetos internacionais que envolvem o uso intensivo de tecnologia da informação.
"Os investimentos financeiros feitos pelo LIneA estão trazendo ótimos dividendos em termos de resultados científicos, permitindo, inclusive, a participação de jovens estudantes em descobertas relevantes na astronomia, além do contato com colaboradores internacionais de instituições de primeira linha", avalia o coordenador do LlneA e pesquisador do Observatório Nacional (ON/MCTI), Luiz Nicolaci.
Sobre o LlneA
O LIneA é um laboratório interinstitucional que envolve, além do ON, o Laboratório Nacional de Computação Científica (LNCC) e a Rede Nacional de Ensino e Pesquisa (RNP), todas instituições vinculadas ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI).
O laboratório foi criado com a finalidade de dar suporte à participação brasileira em experimentos científicos, utilizando dados provenientes de grandes levantamentos astronômicos – os projetos Dark Energy Survey eSloan Digital Sky Survey III.
Para alcançar os objetivos científicos, o LIneA gerencia a infraestrutura de armazenamento, processamento, análise e distribuição de dados astronômicos através do projeto Astrosoft.
Participam do LIneA pesquisadores e técnicos dos institutos do MCTI mencionados acima, além de professores de universidades.
Fonte:Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação